Para quem nos acompanha em nosso canal do YouTube e nossas redes sociais, já deve ter percebido que a principal viatura desse escritor que aqui desenha algumas palavras foi substituida. Temos uma nova moto, bem diferente daquilo que estávamos acostumados nas últimas décadas.
Desde que meu saudosíssimo amigo, Adriano "Cabeção" Cândido, me desafiou a comprar uma Harley Davidson e viver meu sonho besta de easy rider malvadão, eu tenho pilotado essas incríveis motos de Milwaukee numa escala crescente.
Comecei com uma Sportster 883 Low, avancei para uma Dyna Super Glide e cheguei na moto dos meus sonhos (e alguns poucos pesadelos), a pesadona, malvadona, da Street Glide FHLX, com seu poderoso Twin Cam 103 e a sonzera no painel, emoldurado pelo famoso morcegão preto fosco.
Mas, por que uma moto nova tão diferente?
Então, os espectadores de nosso canal e seguidores de nossas redes sociais podem estar fazendo essa pergunta: por que sair da Harley para uma clássica moderna? Ficou doentinho? Bateu a cabeça? Precisa de psicólogo?
E ainda que a resposta mais profunda seja difícil de traduzir em um texto, seja ele falado ou escrito, minhas razões passam por fatores diversos e acabam, como quase 100% das pessoas que circulam nesse ambiente das motos clássicas e customs, em uma resposta emocional.
Eu também curto motos clássicas! E especialmente a Bonneville T120 me faz recordar um dos períodos mais interessantes de minha vida, que foi quando vivi em Roma, como jornalista. Essas belas motos, com essa carinha retrô, eram encontradas aos montes nas ruas mais charmosas daquela velha cidade.
Fatores que determinaram a troca da moto
Acredito que os seres humanos sempre estão em movimento de evolução, ainda que não tão rapidamente, como a Psicogenética de Xavier explica que a evolução humana acontece de forma espiral e não em linha ascendente direta.
E nessas espirais da vida, há uns momentos que deixamos de lado certas coisas que, numa determinada fase, nos faziam um bem danado, mas que acabam por perder o sentido, diante de uma nova porta que se abre. Não que deixar a Harley Davidson seja sinônimo de evolução, entendam bem, pois, para outros, o movimento pode ser contrário, saindo de uma moto clássica para uma custom.
Primeiro, veio o cansaço físico e emocional em pilotar uma Harlona na minha atual circunstância geográfica e histórica. A Street Glide ficou pesada, não só pelo sedentarismo aliado à antiguidade da Certidão de Nascimento, mas ela ficou pesada emocionalmente também. Não sei explicar.
O prazer de dar um rolê de Harlão foi substituído pela responsabilidade de estar pilotando uma moto monstruosa em todos os sentidos, e isso fez com que aquela sensação boa, de fazer tremer aquele motorzão, não me mexesse mais no coração.
Além disso, o gosto por caminhos mais simples, mais pitorescos, com direito a paradas para contemplação da paisagem, do clima, dos cheiros, estava me exigindo uma moto mais versátil. O que já tinha me feito comprar uma Royal Enfield Himalayan que, a despeito das críticas, é uma das motos mais divertidas que tenho pilotado.
Talvez, tenha sido justamente a Himalayan que tenha me aberto os olhos para um estilo de moto que curto desde a infância, par e par com as Harley Davidson, que são as motos clássicas.
Cresci ouvindo o ronco da reduzida da 7 Galo do Vilella, vizinho da minha tia, quando ele chegava em sua garagem após o trabalho. Depois, veio a CB400, ícone pra molecada dos anos 80. E a Hollywood?! Que moto era aquela?!
E, quando fui trabalhar em Roma, em meio a milhões de motorini (scooters), estavam elas, as clássicas inglesas. Discretamente, nos bairros mais descolados, você conseguia vê-las num cantinho de uma calçada, geralmente pilotadas por algum dono de bar, ou artista plástico do Trastevere. Caras descolados, com jeitão de que não queriam treta com ninguém, pilotavam essas motos fora das grandes avenidas, em lugares mais charmosos da velha capital do Império Romano.
Aquele ambiente, aquele lifestyle sempre encantou um sujeito que tem uma veia estética mais forte, como eu. Era meu estilo, ainda que, naquele momento, eu ainda fosse um fan boy da Harley Davidson. Mas aquele motopurismo foi me encantando e a semente dessa "via libera" foi plantada e foi crescendo.
Truco, ladrão!
Daí tem um cara que foi fundamental para pegar essa moto. Meu amigo Claudião foi trabalhar na Triumph e, há uns 12 anos, me deu a primeira trucada: "– Troca sua Harley por uma Bonneville, é a sua cara!".
Mas, o fan boy reluta. Fugi do truco várias vezes. "Harley é Harley", eu dizia. Até que, com o passar dos anos e as trucadas regulares, o coraçãozinho foi mudando e, dessa vez, eu mandei o "meia dúzia".
Ferrei-me bonitinho! O cara tinha o zap na mão. Quando peguei uma T120 para fazer o Test Ride foi uma nova epifania na minha vida e um desses turning points que nos permitem viver experiências novas. Imediatamente coloquei a Street Glide à venda e adquiri a Rosie, uma Bonneville T120 Black, 2017, com 5 mil km rodados, que é completamente diferente de uma moto custom.
Bonneville vale a pena
Fiz um vídeo de review da Bonneville em nosso canal do YouTube e o vídeo bombou absurdamente. Milhares de views já nos primeiros dias, e uma infinidade de comentários bons e maus. Era gente falando bem da moto, gente querendo saber mais e, claro, aqueles que a tiveram e detestaram.
Bom, eu estou tendo e estou amando. A moto tem seus problemas? Claro que sim! Como toda moto tem. Ela é desconfortável? Se eu quisesse conforto, ficava no sofá de casa, porque viajar de moto traz em si um desconforto, ou melhor, sair da área de conforto. A Harley é ruim? Óbvio que não! Amo a Harley Davidson!
Mas, o importante é que essa moto me abriu o caminho para novas rotas e para um jeito completamente diferente de pilotar. O Harlão me levava longe nas autoestradas, a Bonneville pede para andar nas vicinais, das estradinhas mais escondidas, que é o que está vindo de encontro ao meu atual estado de espírito.
Além disso, ela é menor e mais leve. Te dá a sensação de que basta ligar e sair rodando. A Harley, não sei explicar, exigia uma preparação psicológica. Sei lá! Talvez algum leitor me entenda e me ajude a traduzir esse sentimento nos comentários.
A idade me fez ficar mais lento, mais intenso na busca. Já percorri autoestradas demais, agora é o momento de me embrenhar nas pequenas vias, nas rotas alternativas, com leveza, levando menos peso, menos bagagem.
Por sinal, um dos vídeos que mais traduz essa minha nova fase da vida e que, certamente, será mostrada, pouco a pouco aqui no Portal Gasolina, é um velho vídeo que circula na Internet desde os tempos em que o YouTube era tudo mato e era no Vimeo que encontrávamos vídeos mais profissionais. Deixo ele aqui abaixo para vocês entenderem melhor.
Mas, por favor, depois de assistir esse vídeo aí, acesso o canal de YouTube do Portal Gasolina para conferir os últimos vídeos e começar a sentir comigo os ventos da mudança do nosso projeto. Ainda falamos de motos custom e clássicas, mas com uma pegada mais libera, capisce?!
Kommentare